quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Carleto Gaspar Simões

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Em outubro de 1826 as Forças Patrióticas de Carleto firmaram o acordo de paz que definia os limites definitivos da República Carletiana. Ao norte a fronteira se estendia ao longo da margem sul do Paraguaçu, a oeste ultrapassava as serras e planaltos até o São Francisco e ao sul seguia o curso sinuoso do Rio Doce.

- O historiador pernambucano José Inácio de Abreu e Lima no capítulo XII de seu livro, Sinopse ou dedução cronológica dos fatos mais notáveis da história do Brasil de 1844, aponta o ataque a salvador como o estopim da crise no Exército Patriótico; tivesse respeitado o acordo e permanecido na defensiva por mais tempo, Marechal Carleto poderia ter, definitivamente, expulsado os portugueses do Brasil.

- A ruptura do acordo de paz fez com que os franceses retirassem seu apoio aos Patriotas e fortaleceu a aliança entre lusos e ingleses.

- Segundo Abreu e Lima, nas vésperas do natal de 1826 o Grande Exército Imperial Português, comandando por um obscuro Coronel Franklin e auxiliado por artilheiros ingleses, irrompeu nas margens do Paraguaçu.

O corpo principal das forças de Carleto se encontrava envolvido no ataque a Salvador e as tropas do Tenente Campos Bastos falharam em impedir a travessia inimiga sobre o rio.

O Marechal, em franca desvantagem, apressou-se em recuar tropas de Salvador e Itaparica até a cidade de Valença, que já era atacada na noite do ano novo pelos canhões e morteiros do exército Imperial.

Diante da precariedade de suas posições, os Patrióticos demoliram todas as pontes da cidade e recuaram para a inacessível Ilha de Boipeba.

Abandonados pelas tropas, os habitantes de Valença foram trucidados pelas forças portuguesas: mulheres foram estupradas até a exaustão, crianças foram surradas e executadas, e os edifícios foram todos arruinados, ficaram de pé apenas a velha igreja amarelada de Nossa Senhora do Amparo, o cruzeiro na praça das balsas e os enxames nos restos do reboco atravessado.

- Carletistas ainda sustentaram a luta através de emboscadas nos mangues que cercavam a ilha, mas no começo de abril os portugueses já dominavam o canal de Tinharé e o todo o complexo labiríntico de rios e meandros que protegiam as Forças Patrióticas.

A ilha foi cercada e não restou alternativa ao Marechal: Na manhã do domingo de páscoa, Carleto se entregava com seus oficiais às forças portuguesas e foi enviado num veleiro militar inglês para o forte do Morro de São Paulo e posteriormente para o Rio de Janeiro.


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REPÚBLICA CARLETIANA (1823-1835)

As referências históricas ao período Carletista na Bahia são praticamente inexistentes. Quase todas as fontes que mencionavam esses eventos ocorridos na Bahia entre 1823 e 1835 foram sistematicamente destruídas ao longo do período regencial e do Reinado de Dom Pedro II.
Tenho conhecimento de apenas dois autores que fazem referência direta ao nome de Carleto Gaspar Simões
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1.

A Conquista de Salvador pelas Forças Patrióticas de Carleto em 1823, a serviço do Imperador Dom Pedro I, é mencionada pelo historiador pernambucano José Inácio de Abreu e Lima no capítulo oito de, Sinopse ou dedução cronológica dos fatos mais notáveis da história do Brasil:


“... General Carleto Gaspar Simões admitiu que teria de sitiar a cidade de Salvador. Ele reuniu canhões e batelões carregados de morteiros e, por seis semanas, a cidade foi bombardeada. O ataque foi tão intenso que a população fez recolher-se em cavernas sob as igrejas. Cercada e incomunicável, Salvador ficou sem alimentos e munição. Nos primeiros meses de 1823 as doenças matavam cada vez mais pessoas. Diante dessa situação, o Comandante Português permitiu a saída dos moradores e cerca de 10 mil pessoas deixaram a capital da província.
Os defensores imperiais mantiveram seus postos, mas Madeira de Mello via sua provisão de víveres reduzir-se cada vez mais, e seus homens começavam lentamente a esfaimar-se.
Em 3 de julho, sabendo que não tinha esperanças de socorro, o comando português pediu termos de rendição ao General...”




2.

O Folclorista mineiro João da Silva Campos, em sua Coleção de contos populares de 1876, curiosamente menciona uma marcante atuação de Carleto, ainda Tenente, numa refrega perto da cidade de Trancoso, quando protagonizara um curiosa intervenção num assalto aos acampamentos da resistência portuguesa:

"... e o homem sozinho e furioso de nome Carleto Gaspar Simões caiu com estrondo sobre os homens e a soldadesca d'el-rei deu para trás com precipitação, ante os repetidos golpes do estranho soldado que, ao demais, parecia blindado contra as balas (...) Mais tarde explicaram os derrotados a causa de haverem cedido terreno àqueles...”

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Um comentário:

Geração Celacanto disse...

Gostei muito! A excelência literária de seu estilo parece trafegar pela indistinção hodierna existente entre a "estória" e a "história"- o que torna qualquer contar mais interessante.
Ass: Flávio C.