terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Disfunção do defunto alheio

A dor hoje aclamada pelos meus rins está tão forte quanto uma melodia de Mozart. Já pensei em comprar umas rosas para cultivar a vida, para me valer a mordida de todos os amores.
Falam da depressão como se fossem rancores, uma doença partida em seus milhões de maltratos. Hoje, não falo da depressão tão somente, não falo do amor, da coragem perdida nas escadas de um condomínio lacônico pois sujo em cristalino azulejo.
Venho falar-lhes da vida em pedacos incultos, como o não-querer de mim. Venho falar-lhes do ego, da falta de afago na minúcia dos dias. A solidão, diz o provérbio judáico, só serve para Deus. Pois, valha Deus Diabo, minha solidão de hoje. Minha perda de sempre.
Estou mais sozinho do que um estrangeiro na Arabia. Estou mais deprê do que a morte em si mesmo- senhores, senhoras!
Sou um diário inacabado. Sou a aurora num firmamento enamorado. Não sou ninguém.
Quero ser. Quero ser, apenas.


Flávio Cavaca